sexta-feira, 23 de setembro de 2011

NÃO SEI. SÓ SEI QUE É ASSIM.




Alguns temas são mesmos polêmicos e o pouco que se toca no assunto é suficiente para gerar confusão e conquistar alguns desafetos.

Recentemente conversava com um amigo sobre a violência urbana e como a coisa anda banalizada, ninguém respeita o direito de ninguém, todos acham o máximo quando se fura uma fila, quando recebe um troco errada – a mais é claro -, e por aí vai.

Mais especificamente conversávamos sobre a pena de morte. Eu, Cristiano Souza Linhares, sou favor. Não levanto bandeira, não entro em chats de discussão e fóruns sobre o assunto, apenas sou. Até já disseram que eu não posso ser católico, uma vez que um cristão se preze não pode concordar com um “crime” tão grande.

Pois bem, costumo dizer que sou 50% católico e, os outros 50%, divididos entre o espiritismo, evangélico, candomblé, budismo e tudo aquilo que acredite em algo superior e divino. O que não suporto são aqueles líderes religiosos que fazem um verdadeiro talk show, curando frieira, unha encravada, olho vesgo, bicho de pé, micose, dor de dente, dor de cotovelo, pé inchado e hemorroida inflamada somente com um sopro, um tapa na nuca ou uma toalhinha molhada. Isso eu acho é graça. A fé cura, mas não dessa forma.

Mas voltamos ao assunto principal deste texto, a pena de morte. Deixo bem claro que defendo que ela não seja para qualquer um. Ladrões de galinha, réus primários, usuários de drogas, ladrões entre outros meliantes que não chegam a tirar a vida de um inocente tem o direito de ter uma, duas e porque não três ou quatro chances de se recuperarem. Agora, perder tempo com estupradores, seqüestradores, praticantes de crimes hediondos, grandes chefes de quadrinhas como Fernandinho Beira Mar, Elias Maluco e companhia LTDA, é “soda”, como diz um amigo jornalista.

A banalização da violência chegou a um ponto que achamos tudo normal, que assaltar o seu vizinho na porta de sua casa ao chegar do trabalho já é coisa rotineira, faça um teste, leia ainda hoje ou amanhã a página policial, com certeza haverá um morto por questões de violência, e você vai achar tudo simplesmente normal, principalmente se não conhecer a vítima, eu mesmo, muitas vezes me comporto desta forma. Vagabundo hoje não tem medo de polícia, a polícia é que tem medo vagabundo. A polícia corre atrás com 38, e eles mandam chumbo de fuzil AR-15, AK-47, Falcon, a ! e com bala comprada pela própria polícia. Ou seja, eles sabem que o sistema carcerário brasileiro está falido, que ali é simplesmente um lugar temporário, uma casa de passagem. Dia a mais, dia menos eles vão fugir, seja por uma fuga cinematograficamente planejada ou por corrupção mesmo.

É preciso que os criminosos voltem a temer a lei, e nada mete mais medo em bandido do que perder a sua vida. Eles precisam voltar a acreditar que dependendo do crime que cometerem vão pagar com a própria vida.

Aí caímos numa outra questão, a gente boa dos direitos humanos. Lembro-me como se fosse hoje, o ano ainda era 2004, e eu ocupava um cargo de repórter na rádio Itatiaia Vale do Aço. Cobria as editorias de política e gerais, mas sempre que precisava fazia matérias policiais. Numa ocasião o então repórter policial Wellington Fred cobria outro assunto em Ipatinga, e eu acabara de chegar para mais uma tarde de trabalho. Fui escalado pelo coordenador de jornalismo Alex Ferreira a cobri um motim na cadeia pública de Timóteo. Naquela época não havia um muro de concreto separando o pátio externo da rua, como hoje, apenas um grande alambrado, desta forma, quem batia papo na porta de sua casa via o que se passava do lado de fora do prédio.

Ao chegar ao local boa parte da imprensa já estava lá, as cenas eram as mesmas de rotina numa ocasião dessas. Preso aprontando lá dentro, familiares do lado de fora, um monte de policial militar e civil no pátio externo, e claro, o pessoal dos direitos humanos. A imprensa naquela época tinha acesso ao pátio externo – hoje não sei se ainda tem – juntamente com policiais, detetives e claro, o pessoal dos Direitos Humanos.

Em pouco tempo o motim foi controlado, alguns poucos tiros de borracha foram disparados, o cassetete sossega leão deve ter entrado em ação e os presos começaram a ser retirados do pátio interno para o externo.

De onde estávamos dava para ver perfeitamente a cena. Eles saiam numa boa, até sorrindo e conversando do pátio interno e quando chegavam ao pátio externo era aquela encenação. Os caras começavam a gritar, a cair, a babar, a chamar os parentes e dizer que estavam apanhando e tudo isso na frente de quem? Acertou quem disse Direitos Humanos.

Uma vez perguntei a integrante deste grupo se ele já havia sido assaltado ou se tinha algum parente que foi assassinado, a resposta foi a mais ríspida possível. “Você não tá gravando isso não né”. Juro que não queria uma entrevista só queria saber ele tivesse passado uma situação dessas se estaria ali, da mesma forma que nenhum pai que teve o seu filho morto por um meliante qualquer não estava.

Concordo em gênero, número e grau, que as mudanças devem começar ainda na infância, com bons exemplos dos pais, das famílias, que a instituição chamada família não perca seus valores, crianças bem orientadas são adultos honestos.

Ainda nos tempos de faculdade lembro-me de alguns alunos pseudos-intelecutais que adoravam criticar quando dizia que eu lia Paulo Coelho ou então que assistia ao Programa do Ratinho, diziam que ambos eram lixos culturais, e regurgitavam que liam outros autores e que assistiam programas como Jô, Marília Gabriela, ente outros que na subjetividade deles julgavam serem melhor. O curioso é que estes pseudos-intelecutais até abandonaram a profissão por não encontrarem emprego na área de comunicação. Mas a ocasião em que este assunto veio à tona foi quando discutíamos sobre repercussão de fatos e de como a notícia era dada. Citei o Ratinho porque ele fazia uma comunicação popular – de massa como costumamos dizer na área - de modo que a classe baixa entendia como ele repassava a informação. Este parágrafo parece estar destoando do texto em questão, mas não, entrei neste ponto porque naquela ocasião o comunicador do SBT fala exatamente sobre a violência e de como a questão tem que ser tratada ainda na infância. Ele comentou sobre os centros sociais e alguns programas de prefeituras, governos de Estado e Federal que as vezes visam apenas o lado cultural, como aulas de dança, pintura, capoeira, teatro etc., e não trabalham o lado profissional do jovem. Não estou dizendo que a cultura não é importante, muito pelo contrário, mas ensinar uma profissão para os adolescentes é ainda mais importante, principalmente em comunidades de baixa renda. Naquela ocasião o Ratinho disse que era preciso incluir nestes projetos sociais aulas de carpintaria, panificação, pedreiro, manicure, cabeleireiro, entre outros cursos profissionalizantes.

Quando citei exatamente este exemplo, os pseudos-intelecutais, apoiados pelos professores nem quiseram discutir a INFORMAÇÃO DEVIDO AO MEIO QUE A TRANSMITIU. Não levaram em conta a questão social, que era exatamente o que eu queria discutir. Fiquei a pensar se o mesmo comentário tivesse sido feito pelo William Bonner, Fátima Bernardes, William Vlack, Caco Barcelos e companhia LTDA. global, teria então direito a discussão?

Pois bem, mesmo que de forma assintomática, relegamos a situação. Se dentro da faculdade dependendo da fonte o assunto não é discutido, o que esperar quando ganharmos as ruas então.

Como diria o amigo Jakson Goulart, esse texto virou um papo de aranha – cheio de pernas -.

Certa vez discutindo o tema pena de morte, uma pessoa me disse que gostaria de ver se eu fosse a favor se meu pai morresse na cadeira elétrica ou eutanásia e fosse inocente, se eu teria a mesma opinião. Sei que muitos inocentes já morreram de forma equivocada, mas a proporção é insignificante em relação aos culpados, e como disse, não ela não seria aplicada à ladrões de galinha e a réus primários, e sim em casos específicos, é um risco que temos que correr, se quisermos que os bandidos voltem a temer a lei.

Conforme disse no início do texto, sou 50% católico e o outros 50% divididos entre o espiritismo, evangélicos, candomblé, budismo, entre outros, não fiz primeira comunhão, não sou crismado, mas sou batizado, passo até um mês sem ir à missa, mas rezo todas as noites e garanto que minha fé é muito maior e verdadeira do que muitos que freqüentam e estão na igreja todos os dias. Não sei se este pensamento sobre a pena de morte combina com quem acredita e respeita Deus. Mas como diria o personagem Chicó, em o Alto da Compadecida, do autor, Ariano Suassuna tem coisas que, “não sei... só sei que é assim”.

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