terça-feira, 5 de julho de 2011

Tem pardal pra todo lado


Coitado do Pardal, sempre é pego para Judas. Sujou a roupa no varal, foi Pardal que fez coisa onde não devia, tá acabando com aquela hortinha no fundo de casa, é o pardal que está comendo tudo, querem dizer que o cara é bicão e folgado, atribuem a ele o apelido de pardal.

Mas ultimamente os pardais que vêm tirando o sono dos motoristas da Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA) são outros. Eles possuem haste e compartimento de metal, câmera fotográfica e te mandam uma continha para pagar.

Não são poucos os que querem dizimar e extirpar de uma vez por todas esta raça. Mas uma coisa é certa, esse bichinho só pega quem está errado. Não vou entrar na questão sobre indústria da multa, porque isso é claro que existe, mas, sobre a necessidade desta engenhoca eletrônica de caráter “educativo”.

Há pouco mais de dois meses troquei de emprego, continuo atuando na área de comunicação, mas longe da política onde atuei nos últimos seis anos de minha vida. A empresa que trabalho presta serviço numa grande siderúrgica na cidade de Ipatinga. Na área interna desta empresa, em se tratando de leis de trânsito, me sito como se estive em países de primeiro mundo como Europa, Canada e Japão.

Todos respeitam rigorosamente as leis de transito que simplesmente são as mesmas das “lá de fora”. Em algumas ruas onde a velocidade permitida é de apenas 30 km/h, tem motorista andando a 20 ou 25km/h. Só do pedestre caminhar rumo à faixa de pedestre, o motorista dos carros, ônibus, caminhões e carretas param e gentilmente nos dão a preferências, todos se respeitam, todos se amam e todos são felizes assim como num conto de fadas. Mas infelizmente conto de fadas não são reais, e quando o expediente termina e os belos motoristas dos mesmos carros, ônibus, caminhões e carretas que dentro da empresa são verdadeiros gentlemen sofrem uma metamorfose instantânea, como aquelas que vemos nos desenhos animados.

Ao passar pelas portarias da empresa e ganharem as avenidas e ruas no mundo sem lei aqui de fora, os mesmos carros, ônibus, caminhões e carretas, passam a ter comportamentos agressivos, não respeitas as mesmas faixas de pedestres, furam os sinais, cortam pelo acostamento, buzinam, xingam, fazem gestos obscenos e algumas vezes partem até mesmo para a agressão física. Mas o porquê de uma mudança de comportamento tão brusca e repentina separada apenas por um portão de uma empresa? Porque lá dentro simplesmente são seres civilizados e cumpridores das leis de trânsito, e aqui fora são seres irracionais? A resposta é simples. Lá dentro as leis funcionam, e quem não as cumpri, é rigorosamente punido. Não parou na faixa de pedestre, tem multa, perde o direito de entrar com o veículo na área interna da empresa e conforme a infração pode até mesmo ser demitido. Lá fora? Haaaa ! lá fora é diferente. Fiscalização somente no faixa azul, guarda de trânsito? somente nas esquinas da avenida 28 de abril, e mesmo assim, só parado, nem se dão o trabalho de ir atrás dos infratores, apenas quando eles passam diante dos seus olhos e mesmo assim não é sempre que o bloco e a canetinha entram em ação.

Não é só sensação de impunidade não, é impunidade mesmo. Façamos uma reflexão, você realmente conhece alguém que perdeu a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), que não pode mais andar de carro pelas ruas por não ter obedecido as leis de trânsito. Eu conheço um cara que matou um amigo durante um racha na Avenida Emalto em Timóteo e até hoje ele está dirigindo, e olha que isso foi em 1999 quando ainda cursava o segundo grau.

Mas é interessante também analisar o papel do pedestre. Dentro da empresa, atravessam as vias somente nas faixas de pedestres, olham para os lados, não andam no meio da rua, quando isto é preciso, fazem apenas nas faixas amarelas que delimitam um espaço de segurança. Esses mesmos pedestres ao transpor também os portões da empresa são acometidos da mesma metamorfose citada anteriormente, até mesmo porque alguns deles se tornam motoristas. E o mais legal disso tudo, o mesmo pedestre que dentro da empresa exige o seu direito como pedestre, ao assumir a direção de seu viril veículo, simplesmente não respeita o direito do pedestre lá fora no mundo real.

Infelizmente a verdade é essa, nós brasileiros somente aprendemos a lição mediante a punição, só enxergamos quando a coisa atinge o nosso bolso, ou diretamente algum interesse nosso.

Peguemos outro exemplo, a famigerada BR-381, apelidada injustamente de “Rodovia da Morte”. Pois bem, a rodovia não mata ninguém, ela é apenas um objeto abstrato, quem mata são os motoristas imprudentes que nela trafegam, e não respeitam os limites da ultrapassada rodovia.

Várias foram as notícias nos meios de comunicação sobre as tragédias ocorridas na 381, até que resolveram encher o trecho mais perigoso, entre João Monlevade e Belo Horizonte com mais de 60 controladores de velocidades, os vulgos “Pardais”, é um atrás do outros, com limites que variam entre 50 e 70km/h.

Façamos agora uma nova análise, quanto tempo não ouvimos falar de tragédias na mesma rodovia desde que os Pardais “pousaram” às margens da BR. Vários acidentes de gravidade menor aconteceram, mas tragédias, com dezenas de mortes conforme já estávamos nos acostumando, realmente não se viu mais. E agora a pergunta. Porque houve essa redução? porque mexeram no nosso bolso, porque agora seremos punidos, mais do que pontos extraídos da CNH, há a extração dos suado dinheirinho das nossas contas correntes ou poupança, dinheiro esse que tem que ser desembolsado na pior época do ano, os meses de janeiro, fevereiro e março, época de IPVA, IPTU, matrícula da escola das crianças ou da sua faculdade, material escolar. Esse dinheiro também poderia servir para complementar aquele recursos destinado ao merecido descanso anual ali em Guarapari, no Espirito Santo, ou em Nova Viçosa ou Mucuri, no Sul da Bahia, onde temos a impressão de estar no próprio Vale do Aço, de tanta gente conhecida que encontramos.

Desta forma pergunto qual a semelhança hoje de trafegar pela BR-381 e pelas avenidas da Siderúrgica onde trabalho? Quem não anda de acordo paga caro. Por mais que possa doer, só aprendemos desse jeito, com “castigo”.

É simples, basta lembrar-se de quando éramos criança, se nos comportássemos mal o que acontecia? castigo, ficar sem brincar na rua, sem jogar videogame, sem televisão, e o que acontecia mediante estas punições? virávamos lindos carneirinhos, vivendo em paz e em plena sintonia uns com os outros.

Alguns males são precisos.

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