quarta-feira, 27 de outubro de 2010

MOSTRANDO O PAU


Sítio na beira do Rio Doce, carne na churrasqueira, cerveja, refrigerante e outros petiscos sobre a mesa. Conversas em tom mais alto, risos, gritos, mulheres correndo, risos de homens e uma pequena cobra, aproximadamente uns 30 cm sai do meio do mato rastejando bem devagar rumo a outra moita do capim.

O “gênio” da turma, pega um pedaço de pau, mata a cobra e o mostra como se fosse um troféu para os demais integrantes da confraternização, fazendo uma alusão ao ditado.

Outro fala em tom baixo, um misto de revolta e tristeza; “precisava matar o bicho. Era só pegá-la com o mesmo pau que você a matou e jogá-la no mato de novo”. A resposta veio mais do que rápido. “Ninguém mandou ela invadir o meu espaço”.

Sem querer ter uma visão Budista a respeito do assunto, até mesmo porque o “gênio” que matou a cobra e mostrou o pau não soube informar se o réptil era venenoso ou não, o que mais me chamou a atenção foi a frase, “Ninguém mandou ela invadir o meu espaço”. Fiquei pensando enquanto dependuravam a cobra na cerca do pasto, quem invadiu o espaço de quem. A cobra que entrou de penetra na confraternização dos outros, ou o dono do sítio que ocupou a área que a milhares de anos vem servindo de casa de centenas de espécies.

Infelizmente para muitos os bichos não são considerados dignos de qualquer respeito moral.

2 comentários:

  1. Anônimo19/11/10

    Bacana a reflexão. Mostra um pouco da sensibilidade com a natureza que todos nos deviamos ter, mesmo que esta natureza possa nos parecer hostil.
    Um abraço, do ex colega da faculdade, Flávio

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  2. Jovem, lembro-me do meu avô, João Matuto, que perdeu um irmão na tenra idade, picado por uma jararaca que o picou quando ia pegar um pé de alface para a minha bisavó fazer o almoço de nove filhos famintos. O pobre rapaz literalmente apodreceu em cima de uma cama, numa época em que soro antiofídico era uma ficção. Pois o João Matuto sempre matava as cobras que apareciam no sítio onde vivíamos e repetia: "Cobra boa, é cobra morta".

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